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quarta-feira, 30 de maio de 2007

Alerta ao COREN - Revisão da NR32

Sentimos enquanto trabalhamos, este foi o tema de minha última postagem, porém hoje vou mais além!
Sentimos o tempo todo, e faço este tema relevante, porque as pessoas que dirigem hospitais, parecem pensar que "os elementos" que executam os cuidados aos pacientes, isentaram-se de sentir. Até o próprio COREN, Conselho Regional de Enfermagem, parece não levar em consideração tal fato...
Digo isto porque li e reli a Norma Regulamentadora 32, "a lei que protege a sua saúde", este foi o slogan utilizado pelo COREN em sua última edição... fiquei feliz em saber que estão se preocupando com a nossa saúde. A norma é importante e realmente tem uma preocupação genuína com a saúde fisica dos profissionais de saúde, porém nesta lei faltou um ítem: o olhar para a saúde psíquica da enfermagem.
Há alguns anos atrás trabalhei num grande hospital da cidade de São Paulo, que é claro não citarei o nome, mas todos que trabalham em hospitais, concordarão comigo, quando digo que quando um hospital não oferece condições dignas de trabalho e o que é mais comum é não ter um número adequado de funcionários... e que quando tal fato ocorre, sentimo-nos como que prensados contra a parede! A qualidade do serviço prestado decresce, a possibilidade de erros aumenta, a vida do paciente fica mais vulnerável, se o trabalhador sofre de um algum mal fisico, isto pode se complicar, por isto talvez algumas pesquisas indiquem que a enfermagem envelhece precocemente.
Imaginem então o psiquismo do indivíduo...
Já imaginaram trabalhar sob esta pressão todos os dias, faltar material para prestar um cuidado, e/ou então não ter gente suficiente para atender pessoas que precisam de assistência.
O que acontece com estes trabalhadores? Como se sentem frente a situações como estas? Será que todos lidam da mesma maneira com o fato? Ou será que cada um internamente vai lidar de determinada maneira com tal realidade?
O descaso pode tornar-se um dos mecanismos de defesa prediletos! Em hospitais públicos é muito comum isto acontecer. Quantos relatos ouvimos de usuários queixando-se de não serem atendidos ou de serem mal atendidos...
É claro que temos profissionais, que por conta de não terem uma boa índole, aproveitam-se da fraqueza do nosso triste sistema de saúde pública, e avacalham ainda mais o que já está avacalhado...
Mas o fato é que tem muita gente comprometida que vai perdendo o prazer de fazer enfermagem, por conta de não terem condições dignas de trabalho.
Mais comum ainda é o trabalhador começar a se comportar como uma "máquina de fazer", como alguém que só executa, ou ainda perder sua capacidade de sentir, tornando-se "frio". Tal fato ocorre porque acabamos por bloquear, aquilo que não sabemos lidar. Um mecanismo para resolver tal fato, pode ser: o que o cidadão não consegue resolver e dar conta no plano mentale emocional, descarrega no corpo, e daí adoece de um mal fisico, ou seja somatiza. Também pode deprimir, ou desenvolver uma Síndrome do Pânico.
O medo de não dar conta me assola muitas vezes a mente quando me vejo frente a situações como estas (e olha que existem muitas outras, das quais terei um blog inteiro para relatar...), tenho medo de não dar conta, tenho medo de no meio da pressa errar alguma coisa, o que já aconteceu, fico mal quando percebo que estou tratando meu paciente como um objeto, ou quando não tenho tempo e nem disponibilidade para ouvir... enfim são tantas emoções...

O COREN me decepcionou com a falta da contemplação da saúde psíquica dos profissionais de saúde.

Enfermagem é uma profissão muito séria, que não pode ser realizada sem minimas condições de trabalho, o indíviduo que executa tem que estar bem assistido, não só fisicamente, mas psiquicamente, não continuemos a cometer o mesmo erro a vida inteira, privilegiar apenas a parte física. O psiquismo precisa ocupar destaque nestas discussões sobre segurança na área de saúde.

O pensamento cartesiano, que sustenta as Ciências Médicas e portanto também sustenta a enfermagem, cinde o individuo, privilegiando o corpo ao psiquismo, porém, somos seres holisticos, e portanto a NR32, também precisa contemplar SÁUDE PSÍQUICA dos profissionais...

Transformo meu mal estar em um blog público onde todos podem ler o que penso e parar para pensar junto comigo. Só mudamos a realidade quando pensamos sobre ela. O que diferencia o homem dos animais é justamente esta possibilidade: o pensamente, façamos uso então desta nossa qualidade, em nome dos profissionais de carne, osso e mente que somos!

Abçs, Lady Lucy

2 comentários:

Gravidíssima!!! disse...

Luluzinha,
Tudo bem? Sempre que posso dou uma passadinha aqui no seu blog e todas as vezes que leio, parece que aquilo q eu queria ouvir...
Bjs e muitas saudades...

Lilian

Lu disse...

Bom dia Luluzinha...
Coincidência, pois também sou uma LU, e muitas vezes uso Lucy...
Gosto do seu comentário sobre a saúde psíquica dos trabalhadores em enfermagem, é muito pertinente. E vou contribuir: o que vc acha realmente da maneira como os hospitais fazem cumprir a NR32? Na minha opinião não cumprem. As instituições particulares pouco se preocupam com essas normas, pois SOMENTE a enfermagem cumpre- compreensível- a categoria tem furor por normas. A NR32 é clara: aplica-se a TODOS OS INDIVÍDUOS EM UMA INSTITUIÇÃO QUE CUIDEM DE PACIENTES. E o que vemos está longe disso...Todo o pessoal paramédico (se me permitem o termo) terceirizado não cumpre as normas...O que me faz considerar ainda mais sobre o psiquismo de nós enfermeiros e afins...somos a todo momento subjugados por normas rígidas (sem aqui discutir relevância), enquanto vemos a hipocrisia a nossa frente. As chefias de enfermagem a meu ver são as grandes responsáveis pela tacanhês da classe...profissionais excelentes são massacrados frente a normas que perdem sua essência devido aos vários pesos e medidas mediante quem as cumpriria. Ferem a isonomia profissional, dilaceram a auto estima, minam qualquer manifestação da criatividade. Nos lembra algo?? Cabrestos? Não pense: apenas faça o que eu digo.
Que pena. Nightingale- mulher visionária- deve se revirar.