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terça-feira, 24 de abril de 2007

A Dor e o Prazer de Fazer Enfermagem

Hoje uma grande amiga me fez uma pergunta interessante... "Você sabe porque você escolheu enfermagem?"
Esta conversa surgiu no meio de um parque, estavamos fazendo um '"pic nic" e dentre outras coisas, conversavamos sobre a dor e o sofrimento inerentes a esta profissão ...

Respondi a ela que sei porque escolhi enfermagem! Conforme já disse anteriormente, essa escolha foi feita durante um periodo dificil de minha vida, numa internação e aos 18 anos. Eu escolhi a enfermagem e ela me escolheu, através desta situação e internação... As coisas aconteceram de maneira mágica e rápida. O que sempre tive de certeza em minha mente foi que eu jamais trataria alguém como fui tratada na minha primeira noite no hospital: como se eu fosse uma embalagem!
E é por este motivo que eu sei porque escolhi a enfermagem. Gosto de ver nos olhos das pessoas, aquele olhar de quem se sentiu acolhido e compreendido em sua dor, o meu prazer é ser útil a pessoas que naquele momento necessitam de meus cuidados e principalmente de minha atenção. Me fazer humana num momento tão desumano!
A sofrimento que experimento quase sempre está ligado à desumanidade com que os hospitais tratam aqueles que fazem o próprio hospital continuar a existir. Todos os dias somos expostos a cargas excessivas de trabalho, nos estressamos porque temos que dar conta, às vezes os sujeitos, receptores de nosso trabalho, acabam sofrendo com isto, e nós sempre acabamos ficando com a batata quente na mão...

Se você paciente (futuro ou presente), estiver lendo este email, e em algum momento experimentar um certo clima pesado, não destrate o coitado do técnico de enfermagem, ele, em algumas das vezes, não tem culpa, estamos com uma batata quente na mão, e eu confesso que trabalhar equilibrando tal objeto, não é fácil... (risos)

Somos equilibristas, como já dizia Elis Regina, com a letra de João Bosco:
"Mas sei que uma dor assim pungente
Não há de ser inutilmente a esperança
Dança na corda bamba de sombrinha
E em cada passo dessa linha
Pode se machucar
Azar, a esperança equilibrista
Sabe que o show de todo artista
Tem que continuar"
Apesar de todas nossas dores e prazeres, o show tem que continuar, nossos pacientes precisam de cuidados, e com batata quente ou não, temos que cuidar, e sorrir quando queremos chorar, e chorar frente o imponderável...
Se sei porque faço enfermagem? Sim sei e você sabe?
Até a próxima...

quinta-feira, 19 de abril de 2007

A Arte de fazer Enfermagem

De vez em quando me ponho a refletir sobre a arte da nossa profissão...
Exerço a Enfermagem há pelo menos 13 anos. Nestes 13 anos passei por muitas provas... Aprendi muita coisa, cresci, me formei enquanto ser humano (visto que entrei na área com 18 anos), sou muito grata a esta profissão que acrescentou tanto à minha vida pessoal, me proporcionou conquistas materiais, é minha fonte de renda e é o maior laboratório da vida que posso ter acesso. No começo sentia muito medo de cometer erros irreparáveis, de não conseguir dar conta do trabalho a mim destinado, muitos medos, porém com o tempo, a experiência me ensinou que eu estava no caminho certo... Experimentamos muito prazer e muito sofrimento, nos doamos inteiramente para o outro, chegando a esquecer de nós mesmos, abstendo-nos de nossas próprias vontades. Ao mesmo tempo assistimos os pacientes melhorando ou pelo menos recebendo todos os cuidados que necessitam para continuarem vivos. Se me perguntarem o que mais gosto em minha profissão, direi que é poder fazer parte da melhora das pessoas que passam pelas minhas mãos... As pessoas maravilhosas que conheço, que passo a fazer parte de suas histórias, ao mesmo tempo em que passam a fazer parte da minha história.
Como a Enfermagem entrou na minha vida? Quando tinha 18 anos, meu pai caiu da lage de casa, do 3º andar, ouvi o barulho de sua cabeça chocando-se contra o chão, e saí correndo, quando o vi caidinho no chão, convulsionando, não sabia o que fazer, fiquei desesperada, me senti tão impotente por não poder fazer nada, minha mãe com sua sabedoria protegeu sua boca para ele não morder a língua e levamos ele às pressas para um pronto socorro. Depois de alguns dias ele teve alta e voltou para casa. Começou a ter muita dor de cabeça, teve um trauma craniano, não diagnosticado e o liquor vinha se acumulando em seu crânio. Enfim... ele teve que fazer uma cirurgia, uma Derivação Ventriculo Peritoneal, eu não sabia o que era isso, só sabia que era uma cirurgia de cabeça e que tinham riscos. Meu mundo desabou neste dia, pensei que meu pai fosse morrer. Minha tristeza foi tão grande, que simplesmente comecei com uma gripe, que se transformou numa pneumonia, ficamos eu e meu pai, internados. Foi uma barra para minha mãe, mas o fato é que na primeira noite no hospital entrou uma senhora no meu quarto, que não me deu boa noite, simplesmente verificou meus sinais vitais e saiu como se não tivesse entrado... a sua forma de proceder muito me chocou, mas devo ser muita grata a esta senhora, pois uma semana depois quando tive alta, resolvi que iria fazer enfermagem, e fiz! Mas com a promessa interna de que jamais trataria ninguém como fui tratada: como se fosse um objeto a ser verificado!

Quando estou com meus pacientes sempre tento dar o melhor de mim, levar uma palavra amiga, oferecer um momento de segurança, conforto e humanidade. Pelas devolutivas que recebo dos pacientes, acho que eles nunca se sentiram assim comigo... Por isto acho que a enfermagem é uma arte, a arte de estar atento a si mesmo, para conseguir estar atento ao outro, destinatário dos nossos cuidados... Enfermagem além de ser uma sequência de procedimentos padronizados e uma ciência, é também a arte de se relacionar, consigo e com o outro...

A arte de se relacionar consigo e com outro... é uma outra história para outra postagem...

Até a próxima...

Dia de folga

Dia de folga, é sempre um dia muito esperado por todos... mas nos hospitais, o tempo é outro, não há dia de folga, porque não pára... Aliás esse é um dos meus maiores sofrimentos: não folgar todos finais de semana (ou pelo menos quase todos!), simplesmente porque a vida pessoal fica sempre em suspenso, é muita abnegação!!!
Mas hoje é quinta feira e eu estou de folga, que maravilha, tem tudo para fazer do mesmo jeito, só que em casa!
Mas o melhor de tudo é curtir os momentos de não ter que fazer nada, ficar de boa, como este gatinho: relaxado!
Mas amanhã é outro dia e eu continuo de folga...
Até a próxima...

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Minha nada mole vida na enfermagem

Olá todos! Hoje resolvi criar este blog, com o objetivo de refletir publicamente as dores e os prazeres de trabalhar na área de Saúde... Minha nada mole vida na Enfermagem... seria melhor se fosse intitulada de minha nada mole vida em contato com outros seres humanos em seu pior momento... NA DOENÇA!

Sempre penso que todos nós, independente de cor, sexo, condição social, ou o quer que seja, seremos pacientes algum dia, portanto é de suma importância que todos tenham acesso a vida dentro de um hospital, qualquer dia você pode fazer parte desta realidade... infelizmente...

Pode ser que seja no nascimento de um filho ou acompanhando o adoecimento de um familiar ou amigo, ou pior ainda, pode ser a sua própria internação... Eu já passei por isto... e por este mesmo motivo venho através deste blog trocar experiências com vcs... Quem já viveu uma experiência hospitalar, pode contar, vamos juntos compartilhar...