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quinta-feira, 31 de maio de 2007

Acompanhantes loucos que fazem enlouquecer...

Apesar de trabalhar num hospital geral, nossos acompanhantes são muito loucos e como se não bastasse nos fazem enlouquecer...
Já dizia o ditado: "De médico e louco todo mundo tem um pouco!"
Está é a mais pura verdade... Olhando de perto ninguém é normal, todos nós temos nossas psicopatologias, mas para conviver bem em sociedade o minimo que se preze é que tenhamos mecanismos internos para lidar com situações limite...
Certas pessoas quando estão em situações de muita pressão piscológica sucumbem ao desespero e não conseguem ter atitudes adequadas... Acho que estou sendo modesta, pois muitos enlouquecem ou põe para fora sua loucura, descarregando na equipe de saúde, toda gama de ansiedade e agressividade.
Imaginem um filho/filha que está acompanhando um pai ou uma mãe doente, dependente de aparelhos para respirar, com um quadro instável, etc... Tal família conserva a mesma relação simbiótica de mãe e bebê, onde não há muita diferenciação entre quem é quem, onde o filho ainda está constituindo uma identidade, enfim... Imaginem o desespero deste/a filho/a...
Agora imaginem se este familiar é obsessivo, hipocondríaco e paranóico. Obviamente que ele tentará de todas as maneiras controlar a tudo para que seu familiar não se contamine ou não adquira mais infecções. Com o tempo de internação transcorrendo, este familiar saberá como tudo funciona, o que pode e o que não pode, se formará em medicina, enfermagem, fisioterapia, nutrição. Pois acabam adquirindo um conhecimento por convivência e observação constante da prática.
Como será a relação que este ser estabelecerá com a equipe multidisciplinar e pior: com a equipe de enfermagem, que é quem fica mais tempo dentro do quarto prestando cuidados?
Eu digo, por que vivo isso na pele, é enlouquecedor, desalojador, desestruturante, eu diria que é uma das provas mais difíceis para todos nós e quem trabalha em hospital sabe do que falo...
Por conta deste tipo de ocorrência é que eu digo e bato o martelo que fazer enfermagem não é mole, é difícil, desgastante, temos muito prazer, mas temos muitos padecimentos para enfrentar, e muitas vezes não temos muito o que fazer, pois o paciente necessita de cuidados e é isto o que nós fazemos: prestamos cuidados, nos relacionamos com os mais diversos tipos de pessoas, cada uma com sua singularidade, diversidade de sentimentos, ações e reações, cada uma com sua patologia e instalada dentro de um momento muito difícil, que é uma internação, com risco de vida, risco de infecções...
A proximidade com aquilo que mais tememos é desestruturante: a morte, uma vida de sequelas... É claro que temos pacientes que se recuperam e vão embora lindos e felizes, mas temos muitos pacientes que nunca mais terão suas vidas saudáveis de volta, e nós da equipe de saúde, estamos no meio do olho do furacão, também expostos aos mais altos níveis de desgaste emocional e fisico, por isto cobro do COREN, atitudes com relação ao desgaste psicológico a que somos expostos todos os dias, este é um caso de Saúde Pública e Mental.
Por isto se faz muito importante por parte das Instituições Hospitalares que tenham dentro das Instituições trabalhos amplos da Psicologia do Trabalho, voltados para a assistência aos trabalhadores da sáude, ou seja, é necessário um "cuidado com quem cuida".
A Enfermagem por outro lado, deveria voltar os olhos para si mesma e começar a produzir conhecimento cientifico acerca de assuntos inerentes ao desgaste e ás consequências do mesmo sobre a saúde fisica e psiquica dos profissionais da área.
Nós, da equipe de sáude somos o principal remédio do paciente, portanto precisamos estar bem para cuidar bem do nosso doente, mas antes de cuidar dos outros, também precisamos cuidar de nós mesmos, também precisa existir um cuidado com quem cuida!
Caros colegas da Saúde, quando sentirem que não estão bem, procurem ajuda de um profissional adequado, não deixem o desgaste emocional tomar conta, a ponto de precisar de medicamentos ou licenças médicas. Muitas vezes precisamos ter uma válvula de escape, fazer uma psicoterapia, ou yoga, ou meditação, ou conversar com um amigo ou com seu chefe, não deixem o problema tornar-se crônico e não se esqueçam: quem cuida, tem que se cuidar...
Abçs, Lady Lucy

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